Audácia nos tempos desconhecidos

 

*Maria da Penha Vieira

 

Recomeçar é doloroso e para escrever esta reabertura tive que caminhar ao passado, explorando os caches do WebArchive, relendo copiosamente e sentindo cada momento do início da feitura do Domínio Feminino, bem antes dos tempos conhecidos. Vascolejar a terra chamada primórdios da internet, desde as  até que chegamos ao IRC, Geocities, Alta Vista, Cadê, fóruns de discussões de provedores, resumindo, tudo aquilo que vocês não viveram. A maioria, não.

 

Em cada cache muitas ossadas de sites, mesmo um site feminino francês que me serviu de guia para construir o Portal do Domínio Feminino, o www.vivrefemmes.com,  que aliás, não é este novo que ainda existe.  Quase nenhum daqueles sites existe mais, exceção para o site do Mediare — Mediação de Conflitos, da Dra Tania Almeida, Estadão e iG.

 

Ao mesmo tempo que em 1999, quando o Domínio Feminino foi ao ar, com downloads via internet discada, surgiu o grande boom de registros de sites como investimento e muito mais por esperançosa especulação comercial. Jovens programadores, mais abastados, se arriscavam e registravam 10 domínios cada um, pelo menos. O mesmo ocorrendo com os SysOp pequenos donos da já ultrapassadas BBS. A ideia era negociar aqueles domínios. Não funcionou e o motivo era claro: ninguém ainda fazia fé no poder que a WWW alcançaria nos dias atuais.

 

Nós, porém, os pioneiros da WWW, sabíamos, tínhamos clareza de o quanto poderosa se tornaria a internet  com ou sem perspectiva de lucros naquela época quando nenhuma empresa acreditava no poder de um banner de anúncio. Era compreensível pela ausência das tecnologia, hoje, usadas nas lojas virtuais.

Foi no ano de 1997 que eu comecei a pesquisar, por dois longos anos, como deveria ser um Portal para a Família brasileira. Eram tempos desconhecidos quando as mulheres sequer tinham como desejo de consumo um computador. Para evitar traição da memória, o meu primeiro PC foi um COMPAC de 1975 e a seguir um IBM Ativa Pentium — do tipo engenharia fechada que só mesmo o fabricante podia abrir para consertar — ainda no tempo da reserva de mercado.

 

Pelo tempo que duraram as pesquisas convivi até com a deepweb, nos canais fechados, e que quando eu entrava me sentia no beco de uma boca de venda de drogas. Contudo os hackers sabiam dos meus propósitos e me davam muita ajuda. Convém esclarecer que não eram hackers brasileiros; eram todos de fora e todos dos bons. Foi divertido acompanhá-los em invasões de sites de grandes empresas em busca de falhas na segurança da rede. Eu precisava viver aquelas experiências para saber aonde eu estava me metendo porque a rede nunca foi um playground.

 

Chegada a hora de executar o meu projeto para o site, eu conheci a áfrica sem sair do lugar. Eram tempos de homes pages do Geocities. Todo mundo tinha uma página cheia de gifs animados e besteirada. Ocorre que, aquelas pessoas estavam a minha frente enquanto eu sequer sabia salvar um texto de Word para html.  A garotada toda vinha em meu socorro e nada de eu entender por algum bom tempo. Aprendido isto, fui audaciosa e parti para fazer o site todo em DreamWeaver e aqui não vale debicar, porque aposto que você, leitor médio, só sabe fazer site usando templates do WordPress, o mesmo dos blogs gratuitos.

 

Passados os dois anos, enfim, em 1999, chega a hora de fazer upload e eu precisei do suporte moral de um jovem amigo do meu filho que era responsável pela intranet de uma grande escola e estudante de programação na PUC/Rio. Inicialmente ele pensou que o site tinha poucos links, coisa de mulher. Quando ele viu o tamanho do site assustou-se e assim, tomamos duas noites para carregar o site no servidor; logo foi visitado pelo Cadê e nos classificou como Portal.

 

O mundo, desde Langley até a África Subsaariana deixaram suas pegadas no WebTrends Analytics e logs de visitação.

 

*Maria da Penha Vieira é Jornalista Profissional No. 24694RJ, Editora e Publicadora de Livros

 

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